Perante o quotidiano espectáculo da fome, não pude deixar de encontrar semelhanças entre estas imagens e o excerto do texto de Mia Couto, de um conto intitulado MEZUNGOS, em Cronicando: "Os senhores me desculpem, faz favor. Os senhores são brancos e branco é dono e patrão, mandador da ordem. Eu, aqui onde me estou ver, sou um pobre preto, acostumado da sua raça. (...) Carlito Jonas, se penava na contemplação dos sujos: estão ver? vale a pena um homem sofrer da fome? Entra pouco, sai muito..."
Acostumados como já estamos, até parece uma brincadeira alguém sensibilizar-se com a questão da fome. Mas ela é, ao menos, uma questão. E se o é, temos de a pensar e procurar solucionar. Sabemos que faltam riquezas enormes neste mundo. Algumas pessoas têm no seu património mais do que o PIB dos seus países... E ainda assim, a fome persiste. Mas o problema não é só dos outros... Começa por ser, em primeiro lugar, nosso, quando nem sequer nos deixamos tocar pelo sofrimento alheio. Que podemos fazer?
Utilizando aquela já célebre máxima de pensar globalmente e agir localmente, talvez possamos começar por olhar para aqueles que, mais perto de nós, não vivem de forma fácil... Talvez seja preciso sairmos um pouco mais do nosso umbigo e abrir as portas dos olhos e do coração e, até, quem sabe, tomar coragem para bater à porta de outros.
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